quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Jatropha curcas

Jatropha curcas em floração.


A Jatropha curcas, também designada como Pinhão manso, é uma planta que está a ser utilizada para a produção de biodesel.


Estas fotografias foram tiradas no Cubal, na estrada que circunda o Cubal, perto de um bairro daquela localidade. Quando tirávamos as fotografias as pessoas do bairro alertaram-nos para não consumirmos as sementes que eram tóxicas...

A Jatropha existe nesta região de transição entre o planalto e o litoral semi-árido de Angola. Os troncos cortados e espetados no chão, rebentam e são utilizados para as cercas dos quintais ou para juntamente com outros troncos e capim seco servir de área de sombra para os vendedores ambulantes (FOTO 4).

Já vi plantas de Jatropha em quintais dos bairros de Camabatela, Negage, cidade do Uíge e Gabela e ainda na Fazenda do David, na Tunda dos Gambos. Estas plantas, no caso de Angola, crescem em condições edafo-climáticas completamente diferentes.


Jatropha curcas em frutificação.

O que é biodisel?

Biodisel é um combustível renovável, biodegradável e ecologicamente correto, constituído de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos por reação de transesterificação de qualquer triglicerídeo com um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, respectivamente(1).

Usados tanto isoladamente, como adicionados aos combustíveis convencionais, o Biodiesel é um combustível para ser utilizado nos veículos automotores, feito a partir de plantas (óleos vegetais) ou de animais (gordura animal), transesterificados por uma substancial etílica ou metílica(1).

Existem muitas espécies vegetais que podem produzir biodiesel:
- Óleo de girassol, amendoim, mamona ou rícino, soja, jatropha ou pinhão manso etc.,.


Para produzir biodiesel(1):
- O óleo retirado das plantas é misturado com álcool, etílico ou metílico (etanol ou metanol), e depois estimulado por um catalisador;
- ou através da destilação com catalisadores (craqueamento) e pode ser utilizado em qualquer motor a diesel, seja em caminhões, autocarros, barcos, trens, máquinas agrícolas e até motores que geradores de energia elétrica.

O Centro de pesquisa de Kirstenbosch, do Instituto Nacional Sul-Africano de Biodiversidade, na Cidade do Cabo, num trabalho conduzido pelo Dr. Guy Midgley, principal cientista desse centro de pesquisa, estimou um total de 1.660 milhões de hectares de terra em África que poderiam ser denominadas como regiões crescentes e apropriadas para o crescimento de Jatropha curcas, uma das espécies vegetais mais procuradas para a produção de biodiesel(2).


Em Angola a disponibilidade fundiária total é de 124 milhões de hectares: 40 milhões reconhecidos como área agrícola dos quais se estima que menos de 8% ou 3 milhões de hectares, estão sendo cultivados (1).
Segundo o mesmo autor, deverão contabilizar-se as áreas das regiões semi-áridas do Kunene, Namibe, e zonas litorais de Benguela e Kuanza Sul, que podem ser reflorestadas com plantas que se adaptam e resistem à seca, com alto potencial de produção para o biodiesel como a Jatropha curcas, num programa nacional de combate à desertificação.


Potencial de determinadas espécies vegetais que estão na origem do biocombustível de óleo vegetal (litros de biodiesel por hectare) (1):

Nome Planta (comum) Nome científico Litros Óleo/Há.
Milho - Zea mays 145
Algodão - Gossipium hirsutium 273

Soja - Glycine max 375
Tung - Aleurites fordii 790
Girassol - Helianthus annuus 800
Amendoim - Arachis hypogaea 890
Colza - Brassica napus 1100
Rícino - Ricinus communis 1320
Jatrofa - Jatropha curcas 1590
Coco - Cocus nucifera 2510
Palmeira - Elaeis guineensis 2200 a 5000


Em Angola, a extracção de biodiesel deve ser direccionada para plantas como a Jatropha, palmeira e rícino, reservando os cereais como milho, trigo e outros (soja), para a pauta de produtos alimentares.



A JATROPHA CURCAS EM ANGOLA

A recuperação do semi-árido angolano com esta cultura, adaptada às condições edáfico-climáticas do território nacional (incluindo a Tunda dos Gambos), muito resistente e que pode adaptar-se a, praticamente, qualquer tipo de terreno, usada para combater a desertificação e reabilitar terras degradadas, é uma hipótese que deve ser equacionada pelos dirigentes angolanos.

Do caule pode extrair-se o látex e de suas folhas e cascas outras substâncias para aplicações na medicina, como insecticida na agricultura, etc. Além disso, da casca e das sementes obtém-se biogás. Diversas experiências e testes alcançaram rendimentos de 1.900 litros de óleo por hectare de Jatrofa cultivada a partir do segundo ano de plantio (1).

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o FMI (Fundo Monetário Internacional), o sector pecuário e organizações ambientalistas e ecologistas, bem como a maioria de especialistas e empresas envolvidas na produção e comercialização de biocarburantes, coincidem em que: a Jatropha curcas destaca-se como a planta agro-energética do futuro (1).

Esta planta não compete com as cadeias alimentares humana e animal porque as suas sementes – das quais se pode extrair aproximadamente 40% de óleo susceptível de ser processado e transformado em biodiesel – são tóxicas, o seu óleo não é comestível e o seu preço não está influenciado pela competição com os alimentos de consumo humano.

O cultivo de Jatrofa será, sem dúvida, um acontecimento de forte expressão económica que irá atrair empresas e empresários de várias partes da Europa, Ásia e América, que já se movimentam em busca de parceiros e de terras disponíveis para o cultivo e implantação industrial (1).

Cabo Verde exporta Jatrofa para uso industrial de sabões e tem potencial de material genético (semente) de excelente qualidade (1).

A Índia, por sua vez, tem milhões de hectares de terra não-cultivada que não são plenamente utilizadas por causa de tábuas de água baixas e solo infértil. Proponentes do pinhão-manso (Jatropha curcas) calculam que a planta pode cobrir boa parte dessa área sem causar problemas ambientais (1).

Vantagens da Jatrofa curcas

- Pode crescer e sobreviver com poucos cuidados em terras marginais (de pouco fertilidade).
- Crescimento rápido e planta de vida longa;
- Planta de fácil propagação;
- Sementes não comestíveis (tóxica), não são levadas por pássaros ou animais;
- Suporta secas em Orissa (Índia);
- Controlo da erosão (redução da erosão do vento ou da água);
- Melhoria da fertilidade do solo;
- Aumento das receitas para os produtores rurais;
- Redução dos fluxos monetários do campo para as cidades;
- Produção de energia nas áreas rurais;
- A torta da Jatrofa curcas é muito valiosa como adubo orgânico e fertilizante;
- Planta altamente adaptável, com grande habilidade para crescer em locais pobres, secos;

Desvantagens:

• Baixa resistência ao frio.
• Má qualidade da madeira.
• Sementes tóxicas.
• A torta que sobra não pode ser usada para alimentação animal, devido as suas propriedades tóxicas.

CONCLUSÕES:

- A Jatropha curcas tem condições para desempenhar em Angola um papel fundamental no desenvolvimento de futuros programas de biodisel;

- A Jatropha curcas poderá desempenhar, nas mais variadas regiões agro-ecológicas de Angola, uma função social, ecológica, económica e industrial muito importante, como ficou demonstrado nas vantagens da sua utilização, mencionadas no texto;

- As instituições de investigação e ensino de Angola terão um papel decisivo na discussão e implantação de programas de utilização da Jatropha curcas.


1 - Almeida, C. (2008) - O biodiesel e as potencialidades de Angola. Palestra proferida na Faculdade de Ciências Agrárias no dia 25/04 - Huambo).

2 - Keith Parsons - 21 de Agosto de 2005 “www.ecoworld.com”.


Posted by Picasa

2 comentários:

  1. Identifiquei e localizei a jatropha curcas em Angola, confirmo a existência desta planta em todo território nacional.
    Juliano Nascimento- Bioenergia. Benguela-UKB

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  2. Identifiquei e localizei a jatropha curcas em Angola, confirmo a existência desta planta em todo território nacional.
    Juliano Nascimento- Bioenergia. Benguela-UKB

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